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Um texto sobre solidão

  • Leandro Karnal
  • 18 de abr. de 2019
  • 2 min de leitura

Já vou logo avisando que o texto a seguir são literalmente os últimos parágrafos do livro O Dilema do Porco Espinho do Leandro Karnal, que achei sensacional e quero muito compartilhar, fica por sua conta e risco saber as últimas páginas. Porém não perde a graça de ler o livro todo, acho que até inspire a querer ler o resto.

"O privilégio do silêncio momentâneo é mais fácil do que o jato privado. O privilégio de percorrer um livro faz parte do exercício. No fundo do seu cérebro você está concordando, discordando, pensando ou contestando. De todas as formas, dando passos possíveis no silêncio da leitura. Você acabou de fazer isso, chegando até aqui.

Desconfie de quem se isola sempre. Desconfie de quem nunca se isola. Confie pouco em quem vive conectado. Tenha compaixão pelas pessoas que estão tão desesperadas para evitar a solidão que vivem de festa em festa, de post em post, de bar em bar levando seu desespero para beber. Solidão bêbada não ilumina, apenas tropeça e amanhece mais triste na calçada. Solidão a dois é um inferno absoluto. Solidão ranheta azeda e avessa ao mundo é derrota, e não conquista. Conseguir o exercício da solidão-solitude como um prêmio fruto do seu esforço, um privilégio de busca, uma maturidade de vida: foi isso que falei o livro todo. Apenas na solidão-solitude, você pode fazer a dura pergunta de Thoreau. Será que, ao morrer, terei descoberto que nunca vivi? A resposta está no deserto ao alcance da sua possibilidade.

Terminaremos todos solitários em um túmulo algum dia. Exercitar o lado criativo e libertador do isolamento é evitar que o túmulo surja ainda em vida. Viver exige pausas, pensar implica certo isolamento, ser feliz com quem você ama é, acima de tudo, ter a experiência da solidão antes e durante o amor. Você precisa de muitas pessoas. Viver é amar e amar implica outros seres. Lembre-se apenas de que você também precisa de você e esse mergulho em si é vital. Quando olhar alguém em uma mesa de restaurante sozinho e feliz, passeando em um parque sem ninguém e pleno, quando ligar para alguém e a pessoa em um sábado á noite disser com serenidade: "Eu estava aqui pensando e lendo tranquilo", não se esqueça de lhe dar os parabéns. Aquela pessoa já descobriu a faceta libertadora da solidão tornada amiga e está apta para voltar ao convívio dos outros porque já convive consigo. Se você não se suporta, quem irá fazê-lo?"

KARNAL Leandro, O dilema do porco espinho, págs. 188 e 189.

Não preciso dizer mais nada... Vou deixar o silêncio reflexivo de cada um falar por si só.

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